sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Modernidade

Modernidade

Ele: Deixa, vai! Eu quero isso. Ah poxa, deixa vai!
Ela: Não vou deixar e é bom parar, viu? para de me encher garoto.
Ele: Não vou parar, só vou sossegar quando tu deixar...deixa vai, para de fazer charminho.
Ela: Não, menino! pára, não vou mais falar contigo hein! Que menino chato tu, hein?
Ele: Aaaaiii chata é tu, é tu!! Que mal vai fazer, é rapidinho, nem dói.
Ela: Dói sim, minha mãe disse que dói e não é pra eu fazer isso com ninguém, viu?
Ele: A gente já se conhece há quase um ano, deixa menina, caramba!!!
Ela ficou olhando bem séria pra ele, com aquela cara de: “-Se eu não permitir, esse pivete vai passar o dia todo nesse lengalenga, quem sabe até a vida toda...mamãe já tinha me dito que os meninos são assim mesmo, insistentes, basta um NÃO e eles ficam desorientados”.
Ela: Tu jura que vai parar de me chatear? Jura?
Ele: Claro!!!! Dou minha palavra de homem!!! (kkkk todos iguais, todos iguais, tudo prometem para alcançar um bem maior, o objetivo egoísta, e ainda juram de pé junto, beijando os dedinhos em cruz, não importa que idade tenham).
Ela, já quase consentindo...medita novamente...reflete ...e considera outros elementos daquela decisão...e lança mais uma....umas.....não, não...uma porrada de questões:
Ela: E se tu tirar nota ruim no colégio? E se tu não se formar na faculdade? E se tu virar gay? E se tu virar evangélico? E se tu virar macumbeiro? E se tu começar a usar drogas? E se minha irmã se apaixonar por ti, tu vai ficar com ela também? E se tu me trair? E se...
Nesse instante ele fala em tom maior:
Ele: Pare agora, agora, viu? Se for assim, nessa pressão toda, eu não quero mais não, e olha que ainda nem começamos...vou responder só essas, e se dê por satisfeita garota...bom...vamos lá....
Nota ruim?...para que servem as notas boas se não houver as ruins?
Formar na faculdade? Uma coisa de cada vez...tô preocupado com a alfa.
Se eu virar gay?....vou ser feliz do mesmo jeito...vou me divertir na parada....o mundo é...quase gay na totalidade.
Evangélico? É da hora.
Macumbeiro? Pode ajudar....na hora da raiva um vuduzinho cai bem.
Drogas?...se eu experimentar e gostar....não me deixe....precisarei de você como nunca.
Sobre sua irmã? (...cacete....essa menina é muita pressão psicológica) só se ela insistir muito...sou fácil não..
Trair? JAMAIS!!!!!!! NUNCA NA VIDA!!!!!! JURO PELA ALMA DA MINHA MÃE MORTINHA!!! ...Pôôôrraaaa garota, tudo isso só pra tu deixar eu....(interrompido bruscamente)
Ela: CALE-SE!!!! (tampando o ouvido) não decidi ainda, e não faça pressão também.
Sou de família, você tem que entender meu cuidado, se minha mãe sonhar que você não presta terei problemas...sendo assim...e se minha quiser comer churrasco no domingo?
Ele: Eu trago a alcatra e faço o fogo.
Ela: Se o carro do meu pai estiver sujo?
Ele: eu lavo, encero e aspiro.
Ela: Se meu irmão precisar de ajuda nas matérias na escola?
Ele, emputecido, olhou de soslaio para ela...arqueou uma das sobrancelhas e abaixou a outra...respirou fundo...e...
”-VAI REPROVAR, TU TÁ PENSANDO O QUÊ MINA? QUE EU SOU MESTRE DE OBRAS É?”.
Ela já notando que o pequeno estava ficando com raivinha, amenizou a parada...”-tá bom, tá bom, eu vou deixar”.
Ele se alvoroçou todo, se preparou para aquele momento único na vida de um ser humano, aliás, na vida de dois seres humanos, aquele momento que jamais sairia da lembrança...e...como um verdadeiro cavalheiro esperou que a Dama desse o sinal verde para que ele pudesse avançar com segurança...e...   ...   ela assim o fez..   ...levantou-se do acolchoado com a dificuldade própria da idade, segurou nas grades para se manter em pé, com uma das mãos sustentou seu corpinho de lady, esticou o bracinho para fora bem esticado, com a palma da mão para baixo....
...ele arrastou seu “anda já” para perto do “chiqueirinho” dela e...também esticando-se todo...o mais que pôde...   ...executou o ato que tanto insistira que fosse permitido praticar.....deu um beijinho na costa da mão dela...

...Crianças modernas.


Por Ricardo Serrão

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Amarga Rainha.


Amarga Rainha.

Não se preocupe se vou ficar com você até o fim...vou.
Não se preocupe se a grana faltar e eu ficar triste, sempre saio da tristeza...você sempre me motiva.
Não se preocupe se as crianças não são como gostaríamos que fossem, ainda assim nós as amamos porque são melhores que nós.
Não se preocupe se o controle da garagem não funcionar e o carro ficar preso...não temos controle de garagem.
Não se preocupe se o carro não pegar, eu empurro.
Não se preocupe se o pneu furar, eu troco.
Não se preocupe se tiver lama no local, carrego você no colo para não sujar seus lindos pés.
Não se preocupe se a internet não for conectada, depois atualizamos as notícias.
Não se preocupe se as cachorras não tiverem o que comer à noite, elas já comeram pela manhã, não morrerão.
Não se preocupe se as contas atrasarem, são apenas contas, uma hora as colocamos em dia.
Não se preocupe se a lua não brilhar, o vagalumes ficarão felizes com a escuridão... o escuro os acende.
Não se preocupe se o sol não sair pela manhã, é sinal de que vai chover e a água regará as plantas, e os tomates crescerão.
Não se preocupe em não ser amada, você jamais será novamente, só amor não conceitua o que sinto...é maior, muito maior.
Se você adoecer, não se preocupe com isso também, eu procurarei ficar cada vez mais saudável para carregar o fardo por nós dois.
Preocupe-se apenas em não se preocupar com nada...Deus continua no controle de tudo...
Ah! e se Ele não estiver no controle...não se preocupe, dou um jeito de chamar Sua atenção só pra você...ah dou!
Se vou ficar com você até o fim?...                                            


                                                          ...é claro...


                                                                           ...que não!...






...o que é eterno não tem fim.



Por Ricardo Serrão.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Epifânio Augusto em: Seminário de Biologia

Capítulo X
Seminário de Biologia


Período de provas no colégio, eita pau!

Na sala a gurizada ficava alvoroçada em época de provas, em especial aqueles que nada estudavam, logo, nada sabiam. Nossa turma era muito conhecida por suas características, principalmente as estudantis...vejamos...éramos os que mais faltavam, e eram faltas coletivas, as reclamações na diretoria eram constantes, a menor nota do ano entre nós em matemática foi a de Efpifânio (5,0)...ufa passou! Em Biologia foi a do...Epifânio (5,0) credo! de novo? E também em História, Geografia, Inglês, tudo 5,0, parecia seguir certo padrão, mas quando se tratava de Educação Artística e Religião, o cara era fera (5,5) em ambas kkkk tinha jeito não, ele só passava arrastado, quando não ficava de recuperação, e só com muita luta e muito estudo na recuperação, passava arrastado. Mas tinha uma matéria que o moleque se amarrava, Língua Portuguesa, a professora era braba, marcava quem não gostava, ele era marcado por todos os professores, mas acho que tinham pena dele no fim do ano porque ele nunca reprovou nenhuma série. É verdade que teve ano que foi preciso orar muito, pois fora parar no Conselho de Classe, a Santa Inquisição Estudantil.

Tínhamos um professor de biologia que gostava de tomar umas pingas e não foram poucas as vezes em que chegou embriagado em sala de aula, se chamava Antonieldson de La Concepción, com esse nome devia ter um pé na Espanha, e gostava de nos colocar apelidos com nomes que estudava nos assuntos que iria nos ensinar, na sala já tinha o epitélio olfativo, o desoxirribonucleico, o esporófito, a protozoária, o gametófito e a hemoglobina, cada apelido estranho, acho que ele pensava que a gente sabia o que significavam esses troços. Certa vez nos passou um trabalho que serviria como nota da prova do bimestre, era de pesquisa e teríamos que defender o assunto no dia da entrega. Na capa deveria constar o nome da escola, do professor, da matéria, da equipe e dos alunos. No dia que foram divididas as equipes, não estávamos em sala pra variar, mas estávamos no colégio...na diretoria...os sete....alguém tinha colocado sabão em pó na geladeira que ficava emborcada sobre uma espécie de suporte e com duas torneiras adaptadas que servia de bebedouro para toda a comunidade escolar, inclusive aos professores, e como ninguém sabia quem tinha sido o autor da façanha, diga-se muito bem elaborada, pelo histórico, nos pegaram por bode expiatório...bodes....sete...estávamos acostumados...era esculhambação, bilhete para os pais assinarem, Epifânio já sabia assinar por todos eles, ou suspensão de uma semana, como se isso fosse um castigo pra nós, passávamos a semana quase toda fora da escola mesmo, mas, tirando as do loro, as notas eram boas.

Naquele dia teve mais alguém que não estava em sala, era Celestino Neto, o mais estudioso da turma, só tirava 10...mesmo se perdesse prova por estar doente, ainda assim tirava 10...incrível, até sem fazer prova era 10...só podia ser por telepatia, telecinesia ou...sei lá....televisão! O fato é que no dia seguinte ele soube que estava na mesma equipe que nós, quase enfarta o guri, já sabia que teria que fazer o trabalho sozinho, mas, de forma honrosa e digna, Epifânio Augusto disse que se ele não deixasse a gente ajudar no trabalho seria tirado da equipe, ora...como se isso fosse castigo pro menino, kkkkk, e que ficaria sem nota...o garoto pensou...pensou...olhou pra nós e disparou...”-Ok, vocês vão fazer a capa” ...Obaaaa!!!! foi uma festa...Epifânio disse que seria com ele, e que não precisaríamos nos preocupar com nada...então tá...já que é assim...

No dia da apresentação, quando cheguei ao colégio, o circo já estava armado, a coordenação pedagógica estava lotada, a escola toda já sabia o que estava acontecendo, menos eu. A “capa”, o problema estava justamente naquilo que ficamos de fazer, a capa, o nome da escola estava certinho, o nome do professor estava certinho, mas o nome da equipe...ah cacete! aquele menino era uma peste mesmo...TENSÃO PRÉ MENSTRUAL, isso lá é nome de equipe de trabalho de 8ª série, ainda mais de equipe formada só por homens? TENSÃO PRÉ MENSTRUAL, que diabos é TENSÃO PRÉ MENSTRUAL Epifânio Augusto? De onde tu tiraste esse nome cão? Pensei.

O Neguinho estava sentado no canto da sala, com uma cara de “ACHO QUE ISSO VAI FEDER A COCÔ PRETO!”

O professor, a diretora, a coordenadora, e uma cambada de gente estavam reunidos na sala da diretora decidindo o que iriam fazer conosco, o pobre do Celestino Neto estava sentado, chorando, com vergonha, o que iria falar para os pais? Ficava se perguntando com a mão na cabeça: “-o que foi que eu fiiiiiz pra merecer essa equipe? Porque tinha que faltar justamente naquele dia?

A porta da diretoria foi aberta, saíram todos...caras fechadas, de quem vai botar o bichão pra fora e dar aquela mijada...o professor falou:

“-Eu custo a acreditar Celestino Neto que você tenha participado de uma falta de respeito desse tamanho (dedão em riste, balançando ao ar, chega o couro da face tremia)!”

O menino engoliu em seco, tentou argumentar que não sabia de nada e que deixara o trabalho em cima da carteira por um minuto enquanto foi ao banheiro, e quando voltou Epifânio já tinha chegado e colocado a maldita capa no trabalho e entregue ao senhor professor. Sem sucesso...mas....pelo histórico daquele menino, uma espécie de Cristo, teríamos outra chance...as outras equipes apresentariam seus trabalhos naquele mesmo dia e a nossa no dia seguinte com a condição de que todos poderiam fazer perguntas pra nós...PRONTO! FERROU! AGORA ME DEU MEDO! VOU TIRAR NOTA VERMELHA! disse Celestino se lamentando pela má sorte.

Se tratando de Epifânio Augusto, nunca nada está perdido.

Epifânio tinha um plano, depois das apresentações daquela manhã, acertou com alguns coleguinhas que eles fariam perguntas no outro dia e que só poderiam fazer perguntas bem fáceis, até escolheu as perguntas, e se fizessem difíceis se arrependeriam, era tipo assim...um acordo...não....tipo...um sinal....não, não...tipo...assim....uma ameaça mesmo.

No outro dia lá estava eu chegando e... adivinhem!!!! O circo já estava armado novamente, mas agora era no corredor mesmo...já cheguei ouvindo Dona Gracinda de Fátima das Sete Chagas de Cristo, o Cristo do pai daquela mulher tinha mais chagas que o meu, pois o dele tinha sete chagas...credo! Ela era a coordenadora (ô mulher do nome estranho), aos berros com Epifânio:

“-Menino endemoniado que é isso de novo??????? TPM? TPM? Que merda é essa Epifânio? Tu sabes o que significa TPM Epifânio?” Falava irritada a distinta senhora tendo como testemunha o professor Antonieldson.

O guri cínico, sarcástico que só ele, com a segurança que lhe era peculiar não titubeou:

Dona Gracinda caaaalma, por favor fique caaaalma! As letrinhas significam TAMU PERDIDO MERMU, só isso, é que ontem quando o professor disse que os meninos poderiam fazer perguntas pra nós foi só o que veio na minha cabeça “TAMU PERDIDO MERMU” e como eu não poderia escrever isso eu abreviei oras.

A velha olhou com um olhar de fulminar menino mentiroso, mas deixou passar....morrendo de ódio, mas deixou.

Na hora da apresentação, Celestino Neto deu aquele show de biologia, não precisava nenhuma pergunta o guri explicava tudo nos mínimos detalhes, mas as perguntas faziam parte da condição imposta pelo mestre, então, Epifânio deu um leve sinal aos guris predeterminados para perguntar...tinha colocado um no fundão, um no canto esquerdo perto da porta e o outro no direito, próximo à mesa do professor, tudo armado. As perguntas eram tão bobas e Celestino tirava de letra, Epifânio era só satisfação, mas não sorria, olhava para cada um da turma numa postura ameaçadora...tipo...SE ALGUÉM PERGUNTAR COISA DIFÍCIL VAI SE VER COMIGO...não adiantou...ele esqueceu que em toda turma tem aquela menina chata que ninguém gosta, que é enxerida, que é intrometida, que é fofoqueira, que nunca namorou nem vai namorar, e na nossa não era diferente...tinha a Mundoquinha...pense num nojo....veio com uma pergunta retirada direto do livro do capeta....só podia ter sido enviada pelo cramunhão mesmo...

Epifânio já tinha mandado Celestino sentar, e já estava entregando o material pro professor quando aquela filhote de tamanduá bandeira com galinha dangola abriu a boca separando as sílabas da fala como se fosse débil mental:

“-Pro-Fes-sor, que-ro fa-zer u-ma úl-ti-ma per-gun-ta, pos-so?”

Epifânio que estava de costas pra sala e de frente pro professor, entregando o material em folha de papel almaço olhou por sobre o ombro direito, com o olhar mais destruidor que o do ciclope do x-man.

O professor consentiu.

O assunto era Botânica e a pergunta foi:

Quero saber o que significa “fotoperiodismo?”.

O professor fez uma cara de quem havia gostado da pergunta e deu pra ver um leve sorriso de vingança naquela boca cheia de dentes.

Um silêncio ensurdecedor pairou naquele lugar.

Celestino se encolheu na carteira numa atitude de “-sei lá que cacete é esse” ...os outros estavam com um olhar tão perdido que nem em “lost” se via igual...

Professor Antonieldson num momento de pressão ordenou que a equipe respondesse logo, sob pena de tirar nota inferior à média.

Epifânio respirou fundo, olhou a garota nos olhos como que dizendo: “-Te pego lá fora e vou puxar teu cabelo até arrancar o couro cabeludo.” E abriu a boca:

“-Fotoperiodismo: É a alternância entre períodos de claridade e de escuridão que afeta a atividade fisiológica de muitas plantas, que reagem a um fotoperíodo crítico, acima ou abaixo do qual ocorre determinada resposta fisiológica. Plantas de dia longo só florescem quando submetidas a fotoperíodos em que o período de escuridão, ou seja, a noite, é igual ou menor que um valor crítico. Plantas de dia curto só florescem quando submetidas a fotoperíodos em que o período de escuridão, a noite, é igual ou maior que um valor crítico. Plantas indiferentes florescem independentemente do fotoperíodo.

Olhei até para os pés do loro arretado pra ver se tinha legenda.

O professor Antonieldson abaixou a cabeça numa clara alusão à derrota sofrida, pois pensava que sairia vingado dessa história.

Epifânio foi aplaudido de pé como um superstar.

Tiramos nota máxima, com louvor, a escola toda ficou sabendo da história e...novamente...pasmem...

O "energúmeno" do Epifânio tinha ido à casa de Mundoquinha na tarde do dia anterior combinar aquela asustadora cena...não acredito mano, ainda vai nos matar do coração esse preto.


Por Ricardo Serrão





terça-feira, 18 de novembro de 2014

Ausência de Menandro



Ausência de Menandro
 
 Menandro, volta! Volta Menandro! Sentimos tua falta
Teu silêncio é triste, queremos sair Menandro
Não nos prive da liberdade, não lamente a falta de inspiração
Aqui na sua cabeça tá tão frio, tão sem graça... tão...”legal”
Volta Menandro, volta! Não se preocupe com o que escrever, apenas escreva
Você é bom...não, você não, nós somos...
Acredite, a inspiração está aí, está aqui...aqui...somos nós
Nós bastamos, somos suficientes, você já se derreteu por nós e em nós
Já se sobrou ao se multiplicar em nós
Apenas pegue a pena, a tinta e o papiro Menandro
Faremos a nossa parte, acredite
Pare de morrer...se reinvente, faça “logoff” e se reinicie
Nem precisa fazer a atualização, estamos aqui, somos atemporais
Volta Menandro...estamos com saudades de te servir
Volta poeta.

As palavras.

Paulinho Moska - A Seta e o Alvo


A seta e o alvo

Paulinho Moska

Eu falo de amor à vida, você de medo da morte
Eu falo da força do acaso e você, de azar ou sorte
Eu ando num labirinto e você, numa estrada em linha reta
Te chamo pra festa mas você só quer atingir sua meta

Sua meta é a seta no alvo
Mas o alvo, na certa não te espera

Eu olho pro infinito e você, de óculos escuros
Eu digo: "Te amo" e você só acredita quando eu juro
Eu lanço minha alma no espaço, você pisa os pés na terra.
Eu experimento o futuro e você só lamenta não ser o que era
E o que era ? Era a seta no alvo
Mas o alvo, na certa não te espera

Eu grito por liberdade, você deixa a porta se fechar
Eu quero saber a verdade, e você se preocupa em não se machucar
Eu corro todos os riscos, você diz que não tem mais vontade
Eu me ofereço inteiro, e você se satisfaz com metade

É a meta de uma seta no alvo
Mas o alvo, na certa não te espera

Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada
Quando se parte rumo ao nada ?

Sempre a meta de uma seta no alvo
Mas o alvo, na certa não te espera

Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada
Quando se parte rumo ao nada...


Obrigado poeta.

sábado, 15 de novembro de 2014

Epifânio Augusto em: Origens

Capítulo IX

Origens

A galera ia apanhar maracujá do mato na estrada perto da pedreira, já éramos seis, faltava Manelzinho. Chegamos frente ao portão da casa dele, e chamamos. O menino olhou pela janela, abriu o sorrisão, foi até a porta já com a camisa no ombro e se preparando pra pular sem descer pela escada quando ouvimos Dona Darcy, mãe de Manelzinho, inclinando o dedo em riste de um lado pro outro negativamente, berrar da janela lateral, lá do fundão da casa de madeira:
-Manel num vai sair hoje pra canto nenhum, tem muita coisa pra fazer, vai ajudar o pai a consertar a cerca, vai plantar maniva, arrumar a porta do galinheiro que a mucura quebrou noite passada, vai dar de comer aos bichos, tem muita louça pra lavar do batizado de ontem à noite aqui em casa, a roupa tá toda na bacia pra ele enxaguar e estender no varal, deu bicheira no ovo do maciste (o cachorro deles), vai ter que ir na venda do Totonho comprar creolina pra passar, e vai na casa da avó pegar  mangará de cacho de banana prata, pra fazer lambedor pra irmã dele tomar, que tá com uma tosse daquelas de enrolar rabo de macaco guariba!!! Parecia uma metralhadora a mulher.
-Epifânio, com a seriedade de um Imortal da Academia Brasileira de Letras, analisou a situação com sabedoria:
“- Se fosse preto tava no tronco da senzala acorrentado esse escravo...é o multi-homem!”.
Estávamos os seis na estrada, Paolo, Rubinho, Mário Alberto, Carlos Magno, o loro e eu, já tínhamos pego três camisas da fruta, amarrávamos os buracos das mangas e do pescoço das blusas e fazíamos de sacola, as árvores eram baixinhas e não precisávamos subir pra pegar os melhores frutos. Quando ouvíamos barulho de carro sentávamos na estrada como se estivéssemos apenas conversando, claro que, muito provavelmente, ninguém acreditava que estávamos apenas conversando, o histórico de travessuras nos acompanhava.
O Ford Galaxie/1970 de seu Ardjan apontou na curva da estrada...sentamos...pareceu diminuir a marcha ao nos avistar...passou por nós bem devagarzinho...nos olhando com uma expressão de ...sei lá....de frieza...angústia...talvez pela vergonha que passara ao revelar da pior maneira que não sabia nadar e teve que ser salvo por um bando de moleques...   ...   ...quando cruzou o olhar com Epifânio a testa franzida se desfez...a feição aliviou a tensão e ...pude ver um leve retesar do canto da bochecha esquerda...um quase imperceptível sorriso...que não foi correspondido pelo amigo ao lado.
A estrada era em aclive e o carro continuou a subida vagarosamente quando chegou correndo Manelzinho, sabia onde nos encontrar, com uma notícia nada agradável pra Epifânio:
-Loro, teu pai tava bebendo no bar da Nilda e chegaram uns garimpeiros de fora...teu pai falou besteira e quebraram ele todinho...levaram ele pra casa muito machucado...se tinha alguém nessa vida que Epifânio amava além da conta era aquele pai...seu Otacílio era um neguinho franzino, que gostava de tomar uma tatuzinho(cachaça) de vez em quando e quando ficava de porre falava alto e revelava os segredos que sabia de todo mundo...ah bocudo!!!
Na hora que Manel nos deu a notícia, nos preparamos rapidamente pra ir. O carro de seu Ardjan parou no alto da ladeira, ele já sabia o que tinha acontecido com seu Otacílio, e também, de alguma maneira, já sabia onde nos encontrar, só não quis dar a notícia pra Epifânio, pois viu multi-homem correndo na estrada. Vimos quando ele fez a volta pra descer e veio rápido em nossa direção...Epifânio parou no meio da estrada, agora com cara de raiva, de frente pro carro, ficamos na beira vendo a cena, o Holandês parou perto do neguinho com o motor ligado, olhando fixamente pra ele, loro gritou com ira:
”- O QUE TU QUER??? VAI EMBORA...NÃO TEM NADA A VER CONTIGO”.
Olhamos aquele cara, se Epifânio estava com raiva dele, também estávamos, fomos pra estrada...pra frente do carro...
O Holandês saiu do carro e disse:
-Entrem no carro, levo vocês mais rápido até a cidade.
Epifânio baixou a guarda, olhou pra nós e assentiu com a cabeça para que entrássemos no carro, mas antes falou para o homenzarrão:
-Isso não muda nada, entendeu? não muda nada!
Pensei comigo: Esse guri ainda guarda muita mágoa daquele soco no estômago, daquelas palavras racistas e preconceituosas!
Quando chegamos na casa dele, Dona Cristina, sua mãe, já recebeu Epifânio aos prantos dizendo: “- Meu filho, pelo amor de Deus seu pai vai ficar bom, vai ficar bom, por favor não vá atrás de mais confusão!
Loro correu pro quarto onde encontrou o pai todo arrebentado na rede, a cabeça aberta, certamente iria pegar muitos pontos se fosse no posto, o braço na tipoia, parecia quebrado, os olhos fechados de muita porrada e a boca cortada dos murros que levou.
O menino nada falou, apenas chorou com a mãe abraçando-o por trás aos prantos de dor e medo que o pretinho quisesse briga...   ...   ...   ....   ....e ele queria!
Foi na cozinha e se armou com uma peixeira...a mãe gritava  “-NÃO MEU FILHO, NÃO VÁ ATRÁS DE NINGUÉM”. Não adiantou, o menino correu no fundo do quintal e veio com um porrete que tinha preparado para quando precisasse, parecia um taco de beisebol, só que de uma espessura só...grosso.
Quando correu pra fora estávamos lá...esperando...ele berrou com a gente:
-NÃO VAI NINGUÉM COMIGO...NINGUÉM, ENTENDERAM?...NÃO PRECISO QUE NINGUÉM ME PROTEJA HOJE!
Toda a cidade já sabia do ocorrido, tinha muita gente na casa de seu Otacílio, todos sabiam que os garimpeiros eram perigosos e matavam por besteira, Dona Betsie e Ankie também estavam lá. Tentaram fazer o guri desistir da idéia, a morte era provável...não conseguiram...já tinha decidido no coração...ia pro porradal...ia pro tudo ou nada...queria sangue.
Epifânio estava diferente, estava....furioso!!
Pulou da varanda num só salto, já tocou o chão correndo pro portão. Seu Ardjan estava escorado no carro, em pé, com os pés um sobre o outro vendo aquela cena intensa...as mulheres gritando e chorando, os homens, com medo, não falavam nada, a mãe desesperada.
O Europeu se colocou na frente de Epifânio que parou...se olharam...o garoto tinha sangue nos olhos...nenhuma palavra...segundos eternos...aquele homem sabia que tinha uma dívida com o preto loiro...e que em algum momento precisaria pagar...de repente seu Ardjan, num movimento que misturava graça, força e atitude, levantou a camisa de meia com ambas as mãos, desnudando um tórax peludo, loiro e musculoso...se preparando pra porrada também...olhou pra Dona Betsie que virou levemente a cabeça pro lado com os olhinhos cheios de lágrimas e...concordou com a cabeça...Ankie gritou chorando.
Entrou no carro, o garoto entrou também!!!
Rapidamente fizeram a manobra pra virar o Ford ...e...   ...   ...adivinhem...   ...
...os valentes...
...guepardo e eu de frente pro carro com os braços cruzados e o peito estufado, 213 com o joelho esquerdo no chão, acocorado meio de lado com o cotovelo direito sobre a coxa direita, polegar sob o queixo, o indicador do lado do rosto apontando pra cima, e os outros dedos fechados na frente da boca, quase na posição de pensador, sobrancelha e camarão nas laterais em posição de aríates, multi-homem mais atrás de nós para, caso eles não parassem por bem, ele pararia o carro com pedras no vidro...
...era a matilha...
Epifanio gritou “-Saiam daí, já disse que não vai ninguém!!”.
E virando-se para o motorista do auto berrou “-Passa por eles agora!”
Ele não passou...não se atreveu...sabia que não deixaríamos nosso amigo ir sem nós...havia lealdade entre nós...e ...nossos pais que também tinham chegado à casa corriam em nossa direção, ou entrávamos no carro ou eles nos segurariam e não nos deixariam ir...entramos todos e o estrangeiro acelerou o Landau...
Oito saíram no carro...apenas três chegaram...durante o trajeto Epifânio tinha preparado a estratégia...sabia que estariam armados e iria desarmá-los primeiro.
Descemos do carro a uns 80 metros de onde aqueles homens bebiam, eram muitos, três mesas unidas com doze homens mal encarados... bêbados.
Caminhamos, o “loro”, o loiro....e eu...morrendo de medo. Cada um com sua arma...Epifânio com o porrete e a peixeira...Seu Ardjan com seu tamanho gigante e seus braços que mais pareciam minha coxa... Pela postura, aquele gigante dos Países Baixos parecia querer meter os “países baixos” dele no rabo de alguém que certamente iria aprender a língua batava lá no Suriname (País sul americano, fronteiriço ao Brasil onde se fala Holandês)....e eu...com uma chave de fenda que tirei do carro...
Os homens nos olharam e já sabiam o que queríamos...porrada! Se levantaram todos...armados com terçados, facas e punhais, mas nenhum com arma de fogo...doze...pararam enfileirados lado a lado na nossa frente...o Holandês de braços ligeiramente abertos mostrando o que tinha, Epifânio com suas armas e seus olhos vermelhos, eu mais atrás...três Espartanos prontos para a batalha.
De repente Epifânio, numa atitude que me desorientou, lançou longe a faca e o porrete...me olhou como quem mandando fazer o mesmo...joguei a chave de fenda também...os homens riram de nós...na certeza que nos amassariam no cacete, tiraram suas armas e lançaram no mesmo rumo que Epifânio jogou as suas...voaram em cima de nós aos gritos e nós sobre eles...nunca apanhei tanto em tão poucos segundos, mas dei uns socos também...uns dois...no momento em que se lançaram sobre nós com toda a força, seu Ardjan acertou alguns, Epifânio outros, eu ...um...mas...   ....saindo das árvores próximas aonde as armas tinham sido jogadas vieram o resto da matilha...pegaram as facas e com a rapidez dos lobos selvagens cortavam os nervos atrás de um dos joelhos dos ébrios garimpeiros, jarretando-os e aleijando-os pro resto da vida...só se ouvia seus gritos de dor e desespero por não conseguirem levantar e correr...estavam sangrando...aleijados...Epifânio quis pegar uma das facas e matar alguns, mas o Europeu abraçando com seu corpanzil não permitiu...e disse:
“-Chega Epifânio...eles não são mais homens!”
Os meninos vibravam com a vitória, eu, apesar de muito machucado e com um olho roxo, também estava satisfeito.
Entramos no carro e voltamos pra casa de Epifânio onde nossas famílias nos esperavam angustiados...fomos recebidos como heróis...Seu Ardjan abraçou e foi abraçado pela família, os garotos pelas suas, eu...bom...antes de ser levado pra casa sob esculhambação, recebi um longo e acalorado abraço de gratidão de Epifânio que sussurrou no meu ouvido...a partir de hoje...lhe chamarei de “valente”...chorei baixinho com a cara enfiada no ombro do amigo...
Quando se dirigia pro carro com a família, seu Ardjan foi chamado por Dona Cristina...virou-se, como também sua esposa...os olhares se cruzaram entre os três...e ela disse...”-obrigado”. Ao que o homem respondeu: “minha obrigação!”.
Todos foram embora...eu fui ficando...ficando...e quando estávamos só nós dois eu não me contive:
“-Por que o holandês quis pagar a dívida contigo dessa maneira, colocando a vida em risco na frente da família loro?”
Epifânio me lançou aquele olhar de bicho do mato, o pomo de Adão fez uma longa viagem até a goela e voltou...passou a língua pelos lábios, naquela ação de hidratá-los pela secura causada pela emoção de revelar outro segredo ultra secreto e atirou uma flecha certeira no meu coração.
“-Mano...nunca pintei o cabelo....sou loiro por herança paterna!”.

Por Ricardo Serrão.



quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Epifânio Augusto em: Preconceito.

Capítulo VIII

Preconceito.

O futebol corria solto no campinho do alto do barranco na beira do rio, era um bom campinho, o único problema era que quando a bola era chutada muito forte alguém tinha que correr muito rápido para que não caísse lá embaixo no rio, pois quem chutava tinha que ir buscar na água e era bem alto, o cara tinha que fazer o resgate e jogar a bola, quando chegava em cima mortinho, quase sempre encontrava outro no lugar dele correndo atrás da pelota. Todos sabiam jogar bola direitinho, menos Epifânio, era o mais “perna de pau” da turma. Certa feita, durante um campeonato de várzea entre adolescentes indígenas e nós, foi bater um tiro de meta e furou um gol contra...ah bicho burro!!!!! por isso preferia ficar olhando o movimento, mas sempre estava conosco, mesmo não jogando.
Uma tarde a pelada corria solta e ele estava na beira do barranco olhando o rio...alheio ao que acontecia nas quatro linhas, kkk como se tivesse alguma linha, o campinho era como qualquer outro, a bola saia quando passava da parte de areia pra parte de capim, que nada tinha a ver com grama, e do outro lado pela linha imaginária que se estendia por todo o campo entre o jambeiro e o pé de jenipapo. Aproximei-me e perguntei. - O que foi lôro? Ele apontou com a cabeça lá pro meio do rio, onde uma lancha passava rápido pra lá e pra cá rebocando uma menina numa prancha de wakeboard...novidade na época...era Ankie...filha de Dona Betsie e Seu Ardjan, uns Holandeses que vieram pro Brasil com o intuito de plantar mogno e fazer a extração dentro de 30 anos, haviam comprado um bom pedaço de chão numa área a uns 25 km de onde morávamos, mas tinham casa na cidade. Eram todos muito brancos, loiros e de olhos azuis como bolinha de gude colombiana.
Quando tínhamos 10 anos mais ou menos, Ankie estudava no mesmo grupo escolar que nós e um dia fomos até a casa dela pra tomar limonada depois da aula, no fim da tarde. Seu Ardjan não estava e ainda não havíamos trocado nenhuma palavra com ele. Não demorou e aquele homenzarrão chegou, muito vermelho do sol, barba grande, loira e cheia, cabelo longo, loiro e volumoso...assanhado...parecia um...sei lá....um...”sasquatch holandês”...O homem foi chegando e olhando pro Epifânio com cara de mal, de quem não gostou do que viu em casa...muito sério disse pra mulher:
- O que esse negro, filho de uma macaca tá fazendo na minha casa? Vai acabar roubando alguma coisa daqui.
Gelei de medo, acho que Epifânio também gelou, a mulher tentou falar alguma coisa e ele já foi puxando meu amigo pelo braço até a porta da rua, nem tentei ajudar, não podia fazer nada, apenas sair também, a menina envergonhada começou a chorar dizendo que estudávamos com ela e que ela é que tinha nos convidado para tomar um lanche. O pai bruto deu um tapa na boca da menina.
Epifânio gritou pra não fazer aquilo com ela, que ele já estava indo embora, mas aquela montanha branca não deu ouvidos e desferiu outro tapa na filha. –Erro dele...Epifânio voou sobre aquele corpo enorme, aos berros, tentando acertar algum golpe...o homem pegou aquele corpo escuro franzino pelo pescoço, levantou até à altura da cabeça, ele esperneando, e disse:
-Nunca mais ponha os pés na minha casa negro fedorento. E deu um soco no estômago de meu amigo, que caiu se contorcendo de dor, chorando. Meu Deus, olha o tamanho dele...o que nós fizemos de errado?
Entraram, a menina aos berros, a mãe chorava sem nada dizer, apenas nos olhava com cara de dó...
Levantei Epifânio que chorava muito, sentia muita dor e mal conseguia andar. No caminho pra casa ele disse que eu não devia contar o que aconteceu pra ninguém, pra ninguém...estava com vergonha...o homem bateu nele só porque ele era preto...não entendia isso...não podia fazer nada quanto a isso...era preto e pronto.
Meu amiguinho adoeceu por dias, a família não sabia o que ele tinha, teve febre alta, calafrios, choros incontidos e involuntários...não falou pra ninguém o que aconteceu...foi tratado como se estivesse com malária...ficou bom...mesmo criança era duro de entortar.
Um dia estávamos reunidos na praça relembrando as aventuras, as anedotas, as mentiras sobre as garotas, sobre as pescarias, sobre as caçadas, kkkk, na verdade mentíamos sobre tudo, mas todos sabiam o que era e o que não era verdade.
Lembramos da vez que um carro forte estava passando na cidade e parou num restaurante da estrada para que os seguranças fizessem a refeição. Estávamos vendo os cartazes dos filmes que foram lançados na locadora de vídeo perto daquele lugar, Rambo-Programado para matar e Conan o Bárbaro, era mês de junho. Multi-homem tinha conseguido 2 mangos e dava pra alugar 3 fitas, aí íamos lá pra casa da tia Nazaré que tinha vídeo cassete e rebobinadora...ela era meio rica.
Enquanto olhávamos os cartazes ouvimos tiros POW, POW, POW, POW!!!!...foi um susto coletivo, os homens da segurança do carro forte se jogaram no chão sacando suas armas e virando as mesas, e apontavam pra todo mundo, aí quem se via na mira deles também se jogava no chão, eita pau!! Foi uma onda, corremos pra trás da locadora e adivinhem...encontramos Epifânio preparando a próxima saraivada de catolé a serem jogados no rumo do restaurante...-FILHOTE DO CAPETA O QUE TU TÁ FAZENDO MANO, TU TÁ DOIDO, DOIDO?!!!! Perguntei não acreditando no que via, os outros começaram a rir da arte e ele não esboçava um sorriso sequer, parecia que estava vivendo uma aventura no faroeste com Jhon Wayne contra um monte de índios cherokees...com a maior cara de pau do planeta terra...e do planeta marte também...e de vênus, de júpiter até do sol, o cãopirôto falou: Mano eu tava doido pra ver o que esses caras fazem quando acontece um assalto com eles! Não resisti, tô cheio de catolé no bolso, ajudaí ajudaí!!! Ora, quem tá na chuva é pra se molhar mesmo, né?
Foi uma farra aquela tarde. Acredito que tenha sido a pior refeição da vida daqueles seguranças. Sumimos no trecho.
E na vez que fomos tomar banho na cachoeira do profano, tinha chovido muito durante a manhã e a água que caia estava forte demais, parecia coisa de cinema, linda, poderosa, perigosa e fatal. Tinha muito guri nesse dia, acho que uns 15 pivetes, a maioria não quis entrar, com medo, e ficaram na beira do igarapé. A queda devia ter uns 3 metros de altura, mas naquele dia pericia ter 30 de tão forte que estava. O loiríssimo encapetado Cortez de Sena achou de se exibir. Foi lá pra cima, um pouco distante da queda d’água, onde a correnteza estava menos forte, mas igualmente perigosa, e tentou atravessar pra outra margem, escorregou nas pedras do fundo, caiu e não teve ação de se levantar e tentar se apegar a alguma coisa...estávamos no pé do barranco quando ouvimos o grito –SOCOOOOORROOOOO!!!! Kkkkk já era...caiu mano...só vimos aquela mancha preta, com as pernas pro ar, sendo lançada lá no alto da cascata, parecia um tronco de madeira estragado, hahahahaha, caiu e afundou de vez, com a força da água que caía não dava nem pra subir, uns riam, outros gritavam que ele ia morrer, que alguém tinha que pular pra tentar tirá-lo do turbilhão, mas....QUEM? aquele redemoinho estava infernal...(hum...se estava infernal ele estava em casa)...de repente o moleque sai do rebojo, e vai sendo arrastado pelas águas sem ter como se apoiar em nada...nós, os amigos, fomos atrás pra ver se conseguíamos parar aquele tição dos infernos...a uns 150 metros riacho abaixo lá estava ele...segurando num cipó de árvore caído, com os olhos arregalados, assustado, só com a cara de fora da água, e do outro lado do igarapé...ainda achou de parar do outro lado do igarapé, (ôô coisinha sinistra!)...nos olhava como quem dissesse...FIZ MERDA GALERA! Ríamos da cara dele, e pela alegria de que estivesse vivo e sem ter se machucado...gritamos:
Sai daí, vamos descer mais e nos encontramos no sítio do seu Mundico, abestado!
Ele ficou parado olhando pra nós...dentro dágua...zoião...ficamos intrigados...de repente ele saiu da água...estava nu..kkkkkkkk o calção do animal tinha sido levado pelas águas, hahahahaha, isso só podia acontecer com ele mesmo...aquela bunda preta saindo da água, parecia coisa de filme de terror, nós ríamos sem freio...ele virou a cabeça  de lado, olhou pra nós e fez aquele sinal com o dedo na boca de psssssiiii....como que dizendo: silêncio gente...por favor...é segredo hein! Tratamos de arrumar uma camisa pra ele se enrolar até chegar em casa.
Nesse dia em que estávamos nessas lembranças, Ankie e sua família pararam o carro do pai na sorveteria do outro lado da praça, desceram e Epifânio não desgrudava os olhos dele...os outros perguntaram o que tava acontecendo, porque ele não tirava os olhos da família da coleguinha da escola....ele me olhou como se dissesse “eles merecem saber, são amigos também, são da turma” e contou o que acontecera anos antes com seu Ardjan, pai da menina. Os meninos ficaram irados, multi-homem disse: “-vamos tocar fogo na casa deles, com todos eles dentro da casa” –Meu Deus, não Manel, o que é isso? Nós não somos bandidos, não é mesmo Epifânio?” virei-me perguntando do lôro. ...ele me olhou....fiquei confuso...ele não poderia estar pensando em fazer aquilo que foi sugerido....   ...   ...-NÃO, NÃO SOMOS BANDIDOS MANO...resperei aliviado....e completou: -Mas ainda terei minha vingança.
A pelada estava no fim e os garotos se chegavam pra perto de nós na beira do barranco que devia medir uns 10 metros de altura...era alto demais...e o rio era bem fundo...tudo ali era perigoso. Éramos agora sete observando a lancha pra lá e pra cá. Mas nenhum estava feliz com a felicidade que aquela menina parecia sentir naquele momento. De repente, numa manobra em que o pai se aproximava da margem e jogava a lancha de volta pro meio do rio para a menina deslizar bem rés à prainha, a lancha bateu num tronco submerso e jogou o pai da menina bem longe da margem...no embalo a garota deslizou até a areia...vibramos bem alto com aquilo, como se comemorássemos um gol do Zico na seleção...PEEEEGGAAAAAAA!!!!!! a menina começou a gritar por socorro...não entendíamos bem, mas parecia dizer que o pai estava se afogando...foi aí que notamos a luta daquele homem enorme pra se manter sobre a linha dágua, ele afundava com os braços erguidos e emergia novamente, Multi-homem chegou a comentar:-É a justiça de Deus seu escroto...aguenta!! O pai da menina estava se afogando mesmo...àquela hora não tinha mais ninguém para ajudar, a menina não parava de gritar por socorro...desesperada...demos as costas ao barranco e fomos andando rumo à vila...os gritos da menina ecoavam pelo ar –SOCOOOORROOOOOO MEU PAI TÁ SE AFOGANDO, ALGUÉM ACODE PELO AMOR DE DEUS!!!
Os meninos tapavam os ouvidos para não ouvir a garota...caminhávamos como se nada estivesse acontecendo de grave...como quem vai à feira comprar tutano pra colocar na sopa.
Olhei para Epifânio, cuja respiração agora começava a ficar ofegante, os olhos marejando como quem sabe o que deve ser feito, mas não quer fazer, as mãos passando apertada por toda a extensão da cabeça....o coração em chamas...parou.
E como quem já decidiu por fazer a coisa certa antes mesmo que aquele neguinho se manifestasse, eu disse:
-Epifânio...   ....   ....você não é assim!
Ele nos olhou nos olhos, a boca aberta soltando o ar, o peito se enchendo e se esvaziando em longas puxadas de oxigênio, as mãos fechando e abrindo como em posição de socar...as pernas pareciam estar nervosas...todos estávamos nervosos...  ...   ...e no exato momento em que ouvimos o grito mais alto da pequena Ankie....PAAAAAAIIIIII! ....a ordem veio...
GAROTOS.....VAMOS VOAAAAR!!!!!
E saiu correndo como um raio de volta ao barranco... sem olhar pra trás e ver que todos estávamos com ele... todos queríamos voar.... voou....como um gavião negro....braços abertos, cabeça erguida como quem olha para onde quer chegar....e fechando os braços como um super herói...furou a água...tchuf!!
Todos voamos....éramos seis pardais em sua cola...todos sentimos a mesma emoção....se Epifânio saltasse para a cratera de um vulcão em erupção iríamos com ele...era assim...contagiante...nem pensávamos...era como se confiássemos a vida a ele, se ele estivesse na coisa tínhamos a certeza que daria certo...
Nadando rápido como sabia nadar, chegou ao já cansado de lutar “gorila holandês” que ainda se debatia tomando muita água....Epifânio sabia que se pegasse o gigante ele, no desespero, iria se atracar ao garoto e ambos se afogariam...esperou por alguns segundos e, fechando a mão, num momento em que aquele senhor emergiu com água nos olhos sem poder ver muito, Epifânio deu um soco da lateral com toda a força...da direita para a esquerda, na ponta do queixo do pai de Ankie...ele desmaiou...Epifânio tratou de pegá-lo por trás, pelo cangote, deixando a cabeça do homem pra fora dágua, para que pudesse continuar em condições de respirar, chegamos para ajudá-lo....um trabalho em equipe...o levamos para a margem...ele estava desacordado, mas vivo e respirando...tinha engolido muita água, mas não morreria...todos estávamos cansados daquilo...menos Epifânio...em pé...olhando o holandês com a filha chorando abraçada ao pescoço do pai que acordara e retribuía o fraterno abraço...com muita dificuldade o homem levantou-se, nos olhou, com aqueles olhos azuis da cor do céu... os seis atrás de Epifânio, seis valentes....Epifânio sabia que aquele homem tinha consciência do que fizera a ele quando criança e que agora estava em dívida de vida, mas...não era fácil para um adulto, em frente à filha, se humilhar pedindo perdão a um jovem adolescente, nem Epifânio queria isso...honradamente, lôro estendeu a mão para o Seu Ardjan, como que dizendo...-Eu o perdôo!...o holandês...chorando...estendeu a mão, puxou o menino para si e lhe deu um forte e calôroso abraço de gratidão, de quem pede perdão...um abraço de amigo...
Relembrando essas histórias, algo me vem à mente. Epifânio não sabia jogar bola, seu talento não era com os pés.

                                                                                              ....   ...   ...era com o coração.



Por Ricardo Serrão


Qualquer semelhança com fatos ou pessoas reais é mera coincidência.


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Epifânio Augusto em: Em defesa da virtude.



Capítulo VII

Em defesa da virtude.

Tínhamos quase 15, já era hora de pararmos de ser covardes e deixarmos de tentar estrangular o pirulito. Certos dias o bichinho ficava tão machucado que inchava, coitado, terminava o dia como um torturado da ditadura, quando na realidade, o dito que era duro, e a vida dele mais dura ainda. Houve momentos em que a bronha era coletiva, alguém conseguia uma revista de mulher pelada e íamos lá pro “espaço sideral”, um lugar no meio do mato, onde uns caçadores da antiga tinham construído uma espera de madeira em cima de uma castanheira e era uma espécie de templo comunitário onde homenageávamos a vida e honrávamos a morte de muitos dos nossos filhinhos, ou futuros filhinhos, lançando-os ao chão, com gemidos e gritos de “ai caralho, ai caralho, tá chegando, tá chegando, vou gozar, vou gozar” às vezes alguém reclamava, “pôurra caralho, cala a boca que não to conseguindo com essa barulheira”...Epifânio, que tinha uma rola só pro cu dele, dizia que quando cagava não podia colocar a muçum pra dentro da privada senão o cú via e se fechava que não saia mais nada, era o mais engraçado, se tremia todinho na hora do clímax e levantava uma das pernas...pense numa cena estranha, aquele guri se tremendo todo e com o corpo apoiado numa perna enquanto a outra subia e se esticava toda num frenesi descontrolado, jogando a cabeça pra trás e dando um grito amarrado, bloqueado de...Ahhhhhhhhhh!!! e lançava jatos que muitas vezes sujava um ou outro, que berrava “caralho Epifânio me sujou, limpa aqui, limpa aqui, bora, bora, limpa logo” acabava em porradal, um esfregando a gala na cara do outro e os outros perdiam a concentração e ficavam putos também e era aquela gritaria de “BANDO DE FILHADAPUTA ME ATRAPALHARAM EU NEM GOZEI POOOOOORRRAAAAAA!!!!!”...era uma sacaria aquele lugar (sacanagem+putaria). Houve vezes em que chegávamos e tinha outra turma saindo de lá...quando víamos, já tava tudo sujo, o chão todo galado como se tivessem jogado goma de tacacá, mas nem isso podia nos parar, deter os hormônios da juventude, nessa época andávamos tão à flor da pele que 213 gozava na mão e passava no corpo...”Égua Rubinho que merda é essa?” a resposta do menino fez com que todos ficássemos pensativos...” “-É que uma vez fiquei olhando o ciborg (ciborg era o cachorro da casa dele) cheirando a cutia da cadela da Dona Mazé e pensei: Por que cachorro cheira antes? Passei quase uma semana pensando nisso, nem dormia direito, será que todos os machos do reino animal tem que cheirar antes? Eu também vou ter? E que cheiro tem? E se feder? E se for azeda? E se for pitiú? Afinal, cachorro come qualquer merda jogada no lixo, então não tem um nariz muito bom não....e de repente, como numa revelação de Deus, tive a visão....era o cio....isso é que chamavam de cio...a cachorra deve soltar algum cheiro quando tá no cio...desdaí eu passo minha porra no corpo, vai que alguma fêmea sente meu cheiro e quer fazer coisinha comigo...nos olhamos reflexivamente...parecia uma meditação religiosa...ninguém tinha coragem de falar nada...e aquele guri passando a mão melada nos braços e no cabelo...de repente todos  ao mesmo tempo fizemos a mesma coisa, vai que dá certo...no meio daquela liturgia nova Epifânio solta das dele: “E se um macho sentir esse cheiro e quiser fazer coisinha com a gente?”...todos pararam...parecia aquela brincadeira de ESTÁTUA!....multi-homem parou com as duas mãos na cara...só com uma brecha entre elas olhando com um olho arregalado e....ahhhhhhhhhhh!!!!! corremos pro igarapé pra tirar aquela meladeira do couro...Cacete Rubinho, não lança mais essas idéias de jirico não mano, faz essas tuas merdas sozinho em casa.

Numa daquelas sessões de terapia hormonal, de crescimento espiritual pela busca do divino, decidimos:

- VAMU PU PUTEIRO, TEMU QUE TREPÁ, NUM TÁ CERTO NÓS SE ACABÁ NA PUNHETA, TAMU FICANDO É FRACO!!!

Pronto! Tava decidido, íamos lá no “BORBOLETA INCENDIADA”, era o nome do puteiro mais famoso da cidade, causador de tanto descasório naquele lugar, e recebedor de muitas mulheres largadas que iam pra lá, pra tentar ganhar alguns trocados pra dar de comer aos filhos, em geral, as meninas de 19 já tinham 3,4...na cidade tinha outro puteiro também, mas esse era diferente, a oferta era de mulher-mulher e...homem-mulher...chamava “BURACO NEGRO”...Eram lugares festejados, badalados, muito bem conceituados pelos homens e amaldiçoados pelas mulheres, nada que um cafuné no cangote da nega no final da esculhambação que os bebuns levavam ao chegar no barraco, rsrsrs, ou depois de uma surra com aquela ripa prepara especialmente para aquelas ocasiões, ah malvadas eram aquelas virtuosas damas, não fizesse esquecer a visita, muitas vezes necessárias, àqueles templos de Diana, digo necessárias porque nem toda mulher tá todo tempo disposta a fazer “imoralidade”, mas todo homem sim...ah sim....nascemos com esse poder...o poder da reprodução, do “olho de tandera”, do “castelo de greisco”, do martelo, do anel...(não, do anel não, homem que é homem não tem o poder do anel não) do espinafre, do sol...eeeitaaa! é muito touro power kkkkkkk.

Então nós decidimos que seria na sexta à noite, tinha que falar primeiro com a proprietária, uma espécie de empresária do amor. Sabíamos que não fechava as portas à ninguém, nem mesmo se fosse menor, pois, como disse, era empresária e empresários nunca param de pensar em lucros...aqueles que param, quebram, e aquele paraíso não passava por crise, jamais quebraria, a não ser nas porradas eventuais.

Não elegemos nenhum representante, queríamos todos participar do processo de descabaçamento juvenil coletivo desde o início, afinal, seria um marco nas nossas vidas...nossa primeira transa.

Na quarta, às 5 da tarde, estávamos todos à porta do “puteiro”, solicitando ao segurança uma audiência com Dona Maria Flor (já àquela hora havia segurança, o lugar era top de linha, funcionava 24 horas, as putas não tinham descanso).

Entramos juntinhos, se escorando no outro...as madames já estavam todas com roupa de dormir, pelo menos era o que achávamos que era, pois nossas mães dormiam daquele jeito...umas roupas bem gitinhas. O lugar era fumacento, quente até o toco, dava pra ver umas com leques, outras se passando uns paninhos tipo toalhinhas de rosto (queria um paninho daqueles...devia servir pra curar alguma doença de pele se usássemos com fé). A mulher nos esperava lá nos fundos, sentada numa cadeira de balanço, obesa, de vestido estampado parecendo cortina de igreja, o cupim da mulher deixaria muito boi com inveja, quase não tinha pescoço, uma travessa no cabelo e um cigarrão de piteira...recebeu-nos com um leve sorriso no rosto imaginando o que queríamos.

lo que los chicos quieren?! ( o que vocês querem garotos?).

...   ...   ...silêncio total...   ...   ...-agora me deu medo! murmurou Paolo sem entender o que a gorda disse.

Ela era Venezuelana...só podia ser...aquele idioma eu já tinha ouvido numa viagem que fiz com meus pais pruma cidadezinha chamada Santa Helena...praquelas bandas!!

Epifânio tomou a frente numa pose...o que nos deu mais medo ainda

 “-Queriemos hacer, señora”.

Arriégua, agora quem ficou com medo fui eu!!! Epifânio hablando en espanhol!!!!

 “-Hacer o que ninõ?” perguntou a dama GG.

Cositas...joder... Lo que los hombres vienen aquí para hacer qué? Orar? Juega manja? cangapé?

(“-Imoral, saliência, coisinha, rala coxa, ora dona, os homens vem aqui fazer o quê? Rezar? Brincar de manja? de cangapé?”).

Estávamos ficando cada vez mais assustados com Epifânio, estava falando em línguas estranhas...seria algum encosto? Seria possessão? Se tratando do loro, não seria de se espantar.

Quieres sexo? la cantidad de dinero es en el bolsillo?

(-Ah! vocês querem sexo?...sei...e quanto vocês tem no bolso?)

Que te importa mujer? (-Pra quê quer saber dona? Epifânio começando se irritar.)

Como assi? Usted quiere el sexo y no quiere decir cuánto quieren pagar?

(-Como assim? Vocês querem sexo e não querem dizer o quanto querem pagar?)

-Pagar? Nos olhamos com cara de abóbora passada e Epifânio disparou dando ênfase às sílabas tônicas de cada frase: -E tem que pagar é? Como é que pode uma coisa dessa dona, as pessoas vão com maior boa vontade no lugar onde só se oferece sexo, com mulheres que fazem isso todo dia, com todo mundo, a maioria bêbu, alguns batem nelas porque nós já vimos, e ficam muito machucadas, até de olho roxo.

Mis chicos, aquí es una casa de putas, las mujeres tienen relaciones sexuales por dinero, los hombres pagar por el placer que les dan en la cama, o simplemente por la empresa, por el placer de tener a alguien que los escuchó, ni debería estar aquí, el tiempo de usted vendrá, ir a casa.

(-Meus garotos, aqui é um bordel, as mulheres fazem sexo por dinheiro, os homens pagam pelo prazer que elas lhes dão na cama, ou simplesmente pela companhia, pelo prazer de ter alguém para ouví-los, vocês nem deveriam estar aqui, a hora de vocês vai chegar, vão pra casa.)

Saímos dali cabisbaixos, frustrados, decepcionados, e ainda com muita vontade...é claro. Epifânio correu de volta lá dentro e minutos depois ele voltou com uma informação importante...o preço.

-Galera, temos dois dias pra conseguir 100 paus...vamu trabalhar!! Foi uma empolgação geral. Dois dias de muito sacrifício, nos oferecendo pra fazer pequenos serviços pela vizinhança, minha mãe até disse pro pai, “-esse menino tá aprontando alguma!”, consertamos cercas, plantamos roça, fizemos farinha, até castrar porco castramos, mas esse negócio não deixamos o sobrancelha participar, vai que ele se arretasse em pegar nas bolas do barrão.

Epifânio era nosso tesoureiro, era quem guardava nossa grana para aquela empreitada.

Sexta à noite. Vestidos a caráter. Alguns de camisa de meia listradas, por dentro da calça social velha, sapatos empoeirados, outros de camisa de gola, abotoadas até em cima, mas Epifânio, ah esse vinha diferente! Jesus aquilo não prestava nem pra ir pro puteiro! Marcamos no coreto da pracinha que ficava a uns cinco minutinhos do lupanário...lá vem ele chegando...pasmem...de calção de jogador de futebol, camisa no ombro, e sandália no pé...“Quiéissomanu???? Vai pra onde assim? Vai pro campinho?” Perguntei.

“-Não, mas tô com dinheiro no bolso, e se vou pagar, vou do jeito que eu quero, e essas quengas vão ter que fazer o que eu mandar...e já tô com roupa fácil de tirá”...hum...nos olhamos...erramos na vestimenta...o loro tá certo....agora é tarde...vamu.

Ah! Preto metido, não tem nem onde cair vivo (porque morto cai em qualquer lugar) e já tá tirando onda de patrão de puta! Tem jeito não!!.

Entramos, tinha uns homens bebendo com as mulheres, outros conversando, outros apenas olhando tudo e fomos direto pro canto onde tava dona “Quenga Rainha Extra Grande”.


¿dónde está el dinero¿ los 100 mangos¿

(-Trouxeram os 100 paus? Perguntou a distinta senhora.)

Epifânio tirou do bolso um bolo de notas e disse como se fosse o dono do mundo:

“-NÃO RAPARIGA...PEGA 1500...FECHA O PUTEIRO...HOJE É SÓ NÓS NA CASA.

Maria Flor riu do franguinho preto de macumba... e...sem tirar os olhos do guri que a encarava com autoridade, gritou pra todo mundo ouvir...

EL PROSTÍBULO CERRADO, TÁ DE RETIRO!!!

- A CASA TÁ FECHADA, TAMU DE RECESSO!!!)

Foi um fuzuê só, os homens protestaram, berraram com a gente, juraram quebrar nossas caras, disseram que não iriam sair até que Dona Quenga falou:

Si no sairen ahora voy a cobrar la deuda que cada uno tiene en la casa

(-Se não saírem agora vou cobrar a dívida que cada um tem na casa!!!!)

Silêncio total...um a um foram deixando o recinto sem sequer olhar pra trás.

O endiabrado Epifânio correu e pulou no pescoço da dona Quenga e tascou o beijo na boca da gorda...ÊÊÊITA CARALHO!!!! ESSE MULLEQUE NUM QUER PRESTÁ MERMO!!!! Gritei....e já foi entrando num quarto nos fundos com aquele corpo gigante a tira colo, e antes de entrar, virou, ainda atracado na porruda, e com o olhar que só ele tinha, sem dizer uma palavra....nos passou a seguinte mensagem:

-Divirtam-se...com cuidado....cada um toma conta do outro...e piscou com um dos olhos...era a deixa que precisávamos, era o sinal do cãopirôto, nem o Batman tinha um assim.

A noite foi tremeeeenda, não sobrou uma puta que não tenha tirado uma casquinha daqueles pintinhos viris, envernizados, e indestrutíveis, verdadeiros mastros de bandeira...naquela época o mais próximo que alguém chegava de pensar sobre camisinha era plastificar o pirulito e isso devia doer...meter o pirulito naquela máquina quente de plastificação de carteira de identidade ninguém queria.

Acho que o que mais se divertiu foi Epifânio, a todo momento passava nu daqui pra lá e de lá pra cá, de quarto em quarto, com aquela “MAMBA NEGRA” entre as pernas...deve ter feito o maior sucesso com as damas da noite.

Eram três da manhã quando alguém gritou: “-CHEGA GENTE, NÃO AGUENTO MAIS!”...ninguém agüentava mais, estávamos a horas pensando que éramos os garanhões, mas quem de fato se divertia eram as moçoilas...Multi-homem estava reclamando de cãibras no pau, Guepardo dizia que tava com íngua (égua!! Íngua de tanto trepar?) Sobrancelha nunca mais iria procurar outro tipo de vaca, camarão já andava pela casa de robby e cigarro no bico kkkkk se achando, o pivete, eu saia satisfeito de um dos quartos com “Bernadete língua de engraxar sapato”, parecia um tamanduá aquela dama, inesquecível...até hoje...213 tinha um sorriso maroto na cara...perguntei...o que foi filhote?...”-Bati meu recorde, valente....bati meu recorde!!” Sobre esse recorde contarei em outra ocasião....e Epifânio?

Dom Epifânio Augusto Cortez de Sena saiu do quarto da “Dona Quenga Plus Size” completamente vestido, como um lorde, um senhor feudal...aos beijos de língua com sua fêmea...e eu que era chamado de valente....pense num corajoso de encarar aquela maceta...

Fomos embora, cada um pro seu barraco, camarão dormiria na casa do multi-homem, pois morava muito longe...

Depois de deixarmos cada um em casa, perguntei a Epifânio:

-Mano e aquele Espanhol?

“-Gosto de ler Valente...O Robertinho, filho da dona Rosicleide sempre viaja pra Caracas e traz umas revistas e me dá...e eu leio ora...”

Acerca da noite primorosa perguntei:

“-Satisfeito Loro?” Ele me olhou com a cabeça levemente abaixada e inclinada para a esquerda onde eu estava, os olhos em diagonal e me deu a resposta mais incrível que alguém poderia dar:

“Demais...(passou levemente a língua entre os lábios como que querendo hidratá-los da secura que dá no momento em que se vai compartilhar um segredo ultra secreto)...não comi ninguém mano...essa noite defendi a honra que jurei entregar apenas à Dalila como quem defende um título mundial de boxe...na porrada...a carne exigia, o instinto de macho exigia...minha bate estaca exigia mais ainda....mas resisti...ela jamais saberá o que fiz pelo amor que lhe tenho, nem precisa saber... mas eu sei...e o Índio também sabe...

Fiquei perplexo com aquela história...-Como é isso cara, você tava na maior sacanagem correndo nu pela casa e se trancava com aquela gorda...e aquele dinheiro todo? Tu roubou alguém? Gastou sem nem trepar?

-Não gastei nada, naquele dia que fomos no puteiro de tarde, depois que saímos, voltei lá e fui falar com dona Quenga...contei nossa angústia de adolescentes punheteiros e que precisávamos da ajuda dela pra experimentar o sexo ...de início ela não gostou, mas aí fui mostrando pra ela que as meninas também ficariam felizes, seria uma espécie de férias de uma noite pra elas, que naquela noite não iriam ser usadas, mas sim usar corpos novinhos, virgens, zerados...e certamente elas ficariam muito agradecidas a ela, dona Quenga, e que trabalhariam mais felizes...e que ficariam todos felizes pelo menos nesta noite....ela me olhava desconfiada, mas, por fim...disse sim...aí, quando eu disse que tinha um plano melhor ainda e que precisaria de 1500 paus, e que ela deveria me emprestar, ela pirou e quase mandou o segurança me enxotar de lá, mas depois de ouvir sobre minha história com Dalila não titubeou...me deu a grana...desde que aceitasse que se eu passasse a perna nela mandaria me capar....o mais difícil foi convencê-la a não me comer valente, a tarada passou a noite fazendo crocrete em mim, mas resisti mano, bravamente, não deixei o bicho endurecer, fiquei pensando na mãe do Nelsinho pirata, a dona Jorgete, aquela velha desdentada que fala cuspindo...kkkk...oh visão do inferno...não podia deixar os meninos pensarem que não gosto da coisa, mas também não queria me entregar ao meu amor mentindo que ainda era virgem sem ser...o importante valente é que guardei o presente que quero dar à Dalila...minha virtude amigo...ela merece...depois de tudo o que tem vivido...ela merece...

Curioso perguntei: -O que ela tem vivido parceiro?

-Vamos pra casa...agora é que vou me divertir amigão...só eu...e ela.

Quando fiquei em casa, não pude deixar de observar Epifânio se afastando rumo à casa dele. Vestido com roupas sabe lá de quem...a virtude defendida para alguém que nem sabe que recebeu tão verdadeira prova de amor...estávamos crescendo...Epifânio estava se tornando um homem de bem sem deixar de lado as travessuras de menino...rsrs já pensou, beijar aquela boca da quenga só pra nos dar uma noite de gala...literalmente...



Por Ricardo Serrão

Olha a mera coincidência hein!!!! Pense num liso.


Deusa Arte.

MÚSICA Já escrevi sobre a presença da arte nas nossas vidas. “A arte é assim, alguns gostam, outros nem tanto, outros são distantes, mas tod...