sexta-feira, 26 de março de 2021

Chorando um Rio Tarumã.

 Um amigo me contou uma linda e triste história de amor. Me autorizou a escrever sobre ela.

Se você não gostar de texto grande não tem problema. Há textos curtos no facebook que podem fazer vc se sentir melhor, mas esse aqui não dava pra ser curto.
Olá!
Me chamo Valdovira e essa é uma das muitas histórias que tenho pra compartilhar. Mas...nesse caso é uma história de encontros, reencontros e desencontros. Chegadas, partidas e perdas.
Lembro do dia em que, descendo um dos corredores da vida, desses que pegamos, e nem sempre nos levam aonde queremos ir, mas, mesmo sabendo que eles não nos levarão para onde queremos ir, os pegamos, e a vida faz a sua mágica, sim lembro do dia que a vi pela primeira vez.
Minha mente me trai às vezes, mas acredito que antes de vê-la, tive a impressão de já sentir sua presença próxima, seu perfume natural de fêmea, ainda que não fosse a única fêmea naquele corredor, seu perfume foi tão significativo, digo, tão intensamente significativo que cheguei a perceber nas papilas gustativas, seu gosto, seu sabor. Seu calor emanando dos poros de seu corpo, impulsionado pelo vibrar do sangue correndo nos vasos e veias e artérias pouco abaixo da pele (ah a pele!). Não sei quem viu o outro primeiro, mas em determinado momento nossos olhares se cruzaram...não...não se cruzaram...se firmaram, o de um no do outro.
Eu só observava o busto, a cutis, as madeixas, as ancas modestas e lindas os olhos...não...não eram olhos...eram duas contas brilhantes que a qualquer homem encantariam apenas lhes direcionando tal brilho, não como uma bôta, mas como uma linda sereia das águas doces dos nossos rios amazônicos.
Foi covardia. Me encantei.
Nada foi dito nesse dia. Nada poderia ter sido dito naquele momento porque nada poderia ser imperfeito, tudo teria que ter planejamento para que o aprouche fosse certeiro, com o desejo de permanecerem na vida um do outro...
Eu queria saber tudo, nome, endereço, suas atividades, sua origem, o tamanho da sandália nos pés, a marca do batom...queria saber a força do abraço, o hálito, o aroma nos cabelos, a maciez da pele, o sabor do beijo, nem pensou em sexo naquele momento...ela não era pra ser tratada como qualquer outra. Ela era mais que qualquer uma, era e é. Ela, por sua vez, aparentava apenas o desejo de estar ali...nada além de estar ali.
Magra...loira...pequena...mignon. Lembro da roupa que usava, da mochila na costa e a bolsinha de mulher a tira colo, pois não era só inteligente, era acautelada, sempre andava com itens de segurança, íntima por vezes, mas isso não interessa a vocês, pelo menos não por ora.
Pouco mais de uma semana depois, eu sofrendo por todos esses dias, pude vê-la novamente, e novamente os olhares se renderam, mas desta vez se tornaram coragem para a aproximação.
-Oi! Sou Val.
-Oi! Sou Sharom.
-Quer casar comigo? Perguntei idiotamente, me arrependendo quase instantaneamente, já esperando a sinhazinha mostrar toda a sua decepção e me dar um fora. Tá vendo como fazer as coisas sem planejar é ficar sujeito a essas ratadas?
Ela apenas riu e disse:
-Quero.
Porra!!! Aí eu não sabia mais o que falar. Não planejei nem a primeira frase, quanto mais o seguimento diante da afirmativa da loira linda.
Fomos nos conhecendo, trocando pequenos charmes, carinhos, abraços, beijos, mas tudo dentro da naturalidade, sem pressa...muito natural... ...
...fizemos sexo avassalador na primeira noite, rsrsrsrs , tudo naturalmente natural e sem pressa.
Éramos quase juvenis, afogueados, amantes intensos, apaixonados, vivendo o que de melhor poderia nos acontecer.
Víamos o pôr do sol no Rio Tarumã, íamos a restaurantes, fizemos amigos em comum, descobrimos outros também em comum. Tudo era bom com ela, tudo fazia sentido, mas sempre tive a impressão de que ela, ela só queria estar ali. Parecia não querer pertencer, apenas estar.
Mas...havia empecilhos. De ordem social, emocional, acadêmica, familiar...a vida nos prega peças além de nos fazer mágicas.
Eis que o que eu sempre soube, sem nunca temer, acontece, o mesmo corredor que a trouxe agora a levava embora. Para outros ares, outros braços, outros abraços e como que por encanto, o amor com seu manto são rasgados. O que lhes resta? Viver, isso é o que sempre resta.
Ela um dia me perguntou:
-Meu amor, o que você faria se só te restasse esse dia?
Sem resposta...
Separamos.
Ela seguiu seu rumo, e eu segui a minha falta de rumo.
Casei. Ela também. Mas no fundo sabíamos que a história havia deixado pontas soltas...coisas a resolver.
Seis anos passaram e a revi, mas ambos casados. Mais doze anos e ambos estavam passando pela separação de seus respectivos companheiros.
Mas a vida é de fato uma caixinha de surpresas, sigo por um caminho, segue ela por outro, e mesmo sem sabermos um do outro, e por essas engenharias que só a vida sabe fazer, os caminhos voltam a se cruzar, aquilo que os impediu já não mais existia.
Penso, a vida não é tão cruel, o universo conspira a meu favor.
Quando se dão conta já estão sendo novamente varridos pelo tsunami da paixão, o tempo passa, e eu? Ah! Eu vivi cada dia, cada momento, cada lugar, cada sabor, cada amor, cada instante como se fosse único (e eram) e ainda como se fossem o último. E ela? Ela só queria estar ali.
Os olhares pareciam os da adolescência, com a mesma chama, o mesmo vigor, o mesmo sabor.
Conversamos. Reatamos. Parecia que agora, com a maturidade e a experiência tudo seria diferente. O sol voltara a brilhar no meu jardim, a chuva conotava vida, paz, amor.
Quatro anos juntos novamente.
Ela ainda atada ao relacionamento anterior na legalidade, eu não.
E o trem que chega é o mesmo trem da partida, a hora do encontro é também da despedida.
Uma noite, juntos, meu coração transbordando de alegria, ela diz:
-Val, te amo, sempre te amei, mas não estou feliz, preciso resolver minha vida.
Sem chão, eu. Sem teto também. Sem lua, sol, chuva, vida!!!!
Ando mais desnorteado que nunca.
Ontem ela me ligou e disse:
-Eu tava muito infeliz com você e estou mais infeliz sem você, mas não consigo me libertar pra te retribuir o que você faz por mim.
Bom...e eu? ...eu tô aqui...chorando um Rio Tarumã.
O que será que a vida ainda tem pra aprontar conosco?
Vou continuar a esperar meu Cometa Halley...há de voltar, mas dessa vez viajarei com ela pelo universo.
Uma história de V.B. do VC e S.
Por Ricardo Serrão.

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