sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Livro 2 - Capítulo 3 - Sonhos de Ícaro

Sonhos de ícaro
Ricardo Serrão

Voltamos da fazenda Trás-os-Montes e Epifânio não voltou conosco. Foi autorizado pelos pais a passar um tempo lá a pedido de seu Joaquim e de Dona Maria Helena Alvarenga  de Trás-os-Montes.  Conseguiram até que o jovem não parasse os estudos e ficasse numa escola próxima, apenas para não perder o ano, afinal, já estávamos em reta final nos estudos. Foram seis meses naquele lugar, longe de Epifânio. Por vezes nos pegamos sentindo falta das aventuras com ele e acabávamos lembrando de uma ou outra travessura.
Depois que Dalila foi embora com Gertjan, o velho Holandês, pai de seu Ardejan, e avô de Ankie, Epifânio vivia na casa deles, lendo, e o Holandês massaroca ensinou Epifânio a dirigir o Galaxie.
Um dia haveria Show do Ultraje a Rigor, uma banda de Rock famosa, num clube da cidade bem afastado de onde morávamos. Queríamos ir, mas ninguém tinha carro, só o dinheiro do busão e dos ingressos, talvez um troquinho pra tomar um refri, e mais nada. Epifânio era maluco por essa banda e foi pedir a Ardejan que nos levasse ou nos emprestasse o carrão... nem um, nem outro...
-Então tá... Se é assim, dou um jeito. Disse Epifânio ao gigante.
Sábado à noite... todos prontos, no banco da praça, autorizados pelos pais, dinheiro no bolso, esperando Epifânio chegar para decidirmos como chegaríamos ao show. Passaram vários carros, em alta velocidade, buzinando alto, jovens embriagados indo rumo ao clube, carros de polícia fazendo barulho, muita agitação na cidade, afinal, era o Ultraje a Rigor na nossa capital, ônibus lotados, gente indo caminhando, tava uma loucura, motos com três, quatro pessoas, ambulância com a sirene ligada, certamente já havia acidente no caminho, e era justamente a grandona do hospital dos Acidentados que ficava perto da nossa casa.
–Vixe, já teve morte! Alguém comentou.
A bichona freou cantando pneu bem na nossa frente.
-BÓÓÓÓÓÓÓRAAAAAAAA CAMBAAAAAADAAAAAAA!!!!!!!!!
Caralho, velho! Era Epifânio no volante da ambulância com jaleco de enfermeiro.
Um olhou pro outro e pulamos pra dentro da viatura barulhenta num frissom.
-Pôrra, mano, tu roubou uma ambulância cara!! Pirou de vez, como foi isso?
-Roubar, não roubei não, peguei emprestado. Corri lá no hospital e disse que minha mãe tava tendo um treco, e que tava toda roxa... Os caras de branco saíram correndo na minha frente e eu fui junto gritando que eles tinham que me levar pra mostrar o endereço... me levaram...
E tu levou eles na tua casa mesmo Lôro?
... Não...  ... Na tua valente... essa hora tua mãe tá doidinha lá, se explicando...
-Putaquiupariu seu maluco, vou apanhar quando chegar em casa.
-Vai valer a surra Valente, o show vai valer a surra.
Por todo o trajeto os carros iam saindo da frente quando ouviam a sirene. Num determinado semáforo o trânsito engarrafou e Epifânio acenava com os braços para fora pedindo para saírem da frente e ninguém se movia, quando de repente, apareceu um guardinha de moto e desceu correndo e se pôs embaixo do semáforo e foi exigindo passagem para a ambulância... saímos dali com Epifânio agradecendo ao guarda que prontamente se colocou em posição de sentido e bateu continência para o enfermeiro em missão de salvar vidas... Epifânio.
Paramos a viatura a uns dois quarteirões do clube e Epifânio saiu correndo deixando o jaleco pra trás e nem olhou pra nós, saímos correndo atrás do demônio preto.
Já dentro do clube nos divertimos demais, pois a banda era sensacional. Não precisávamos beber bebida alcoólica, ou usar qualquer outra coisa para nos alegrarmos, nossa saúde e energia bastavam.
Naquela noite ainda houve outro acontecimento... Dançávamos todos juntos a última música do show, MH, Camarão, 213, Sobrancelha, Guepardo, eu e o Lôro, quando de repente, os músicos pararam de tocar, o vocalista, que era dono de uma língua maior que de tamanduá e vivia colocando a bichona pra fora da boca durante o show, mandou parar o show.
- Ôo! Parô, parô, parô, parô!!! Mandou o guitarrista.
–Galera...
Todo mundo gritou em uníssono, vibrando porque o Roger estava interagindo com a platéia... Êêêêêê!!!!!!!
-Galera, galera... peraí... me respondam numa boa...
Quando cantamos “Nós vamos invadir sua praia” alguém jogou areia em alguém aqui? Ou ficou de biquíni ou de sunga aqui?
Todos responderam: Nããããoooooo...   ...   ...
-Quando cantamos “Eu tinha uma galinha que se chamava Marylú” alguma das gurias presente saiu dando pra todo mundo aqui?
Todos em côro: Nããããoooooo...   ...   ... alguns até protestaram porque queriam que isso tivesse acontecido...
Então... me digam... POR QUE QUE AGORA QUE ESTAMOS CANTANDO “PELADO, PELADO, NU COM A MÃO NO BOLSO”, ESSE NEGUINHO TÁ PULANDO NU AÍ NO MEIO DE VOCÊS?
O cara do canhão de luz lançou um clarão de sol sobre nosso grupo...
... Epifânio tava nu... inacreditável... de onde aquele filhote de “cruzcredo” tirou essa idéia????
Mais incrível ainda foi que a galera vibrou...
-ÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ!!!!!! Fazendo o sinal de Rock and Roll com as mãos e colocando a língua pra fora... inclusive os músicos roqueiros...
Resultado... os seguranças fizeram Epifânio se vestir sob vaias de protesto... afinal... agora ele era o herói da noite... o cara mais punk do show... ficou mais conhecido na cidade que farinha em mesa de pobre.
Seis meses e ele estava chegando. A notícia de que Epifânio chegaria no próximo sábado agitou a turminha. Iríamos ao aeroporto esperar o amigo para saber das novidades e contar as daqui. Ele chegou... sério como sempre... ô guri que não sorria era esse!!! Bom... nós nos alegramos quando o vimos descer do jatinho do seu Joaquim com o Grilo. A Aeronave foi estacionada num hangar alugado pelo rico fazendeiro e só partiria na manhã seguinte de volta à fazenda, depois de fazerem-lhe a revisão e abastecimento.
Nos divertimos naquela noite, Grilo esteve conosco o tempo todo, pois iria dormir na casa do Lôro.
A certa hora da noite Epifânio me chamou, a mim e a 213 no canto pra falar... passamos alguns minutos... tensos  minutos... voltamos ao grupo e 213 correu pra casa... os garotos e as meninas perguntaram o que houve... nada falei... não havia nada a ser dito... o clima ficou pesado... a turma sabia que alguma coisa estava acontecendo... ou estava por acontecer.
O Grilo não bebia bebida forte. Às vezes tomava uma taça de vinho e nada além disso, mas naquela noite, depois de muita insistência de seu Otacílio, ele tomou caipirinha de limão-laranja da terra. Ficou completamente embriagado e com a língua pesada... ria de tudo e lutava para permanecer em pé.
Ao amanhecer, antes mesmo do sol mostrar a cara no horizonte, estávamos no aeroporto, Epifânio, 213 e eu, no hangar onde estava o jatinho da fazenda esperando Grilo chegar. Ele chegou... cedinho... reclamando de dor de cabeça... ressaqueado.
Ícaro Bentes já estava com o plano de vôo em mãos... olhava muito nervoso para Epifânio...
-Você tem certeza disso guri? Perguntou Ícaro ao Lôro. –Acha que consegue?
Epifânio estava calado... olhando o amigo aviador... nada disse... apenas pegou o papel com o  plano de vôo das mãos do Grilo e entregou-lhe outro...
Vimos quando o ônibus do aeroporto parou na estrada e um monte de gente saiu correndo dele... nossos pais... nossos amigos... pronto! Deu merda!!! Quem teria falado alguma coisa?
213 quis desistir... com medo... tentou persuadir o Lôro de não ir, mas este, olhando-lhe a alma através dos olhos, disse:
-Vou precisar de você Rubinho... Ela também. 213 tomou fôlego e...
-Tá bom, mano... eu vou.
Eu confesso que também estava muito inclinado a desistir. Epifânio sabia nadar muito bem, correr mais ainda, era um exímio piloto de bicicleta e carrinho de rolimã, montava um cavalo como um índio americano, mas... isso era diferente... não cabia erro.
-Precisamos ir agora... disse ele olhando firme para Ícaro...
O piloto do jatinho entregou-lhe a chave da aeronave... entramos... o avião começou taxiar para a cabeceira da pista.
Os pais e os amigos chegaram com Ícaro Bentes, o grilo, e lhe perguntaram quem estava pilotando o avião se ele ainda estava ali.
-Epânio, disse ele.
Seu Otacílio muito puto disse: -Desde quando esse garoto sabe pilotar avião rapá?
-Desde que ficou na fazenda não faz outra coisa além de dizer que ia buscar sua namorada a qualquer custo, e convenceu o patrão a permitir que eu lhe ensinasse pilotar... o que não foi problema... aprendeu em duas semana... depois foi só treino e prática... todo esse tempo pilotando esse avião... sabe tanto ou mais que eu.
-E por que você não foi com ele para a fazenda?
-Porque ele não foi para a fazenda seu Otacílio.
-Pra onde ele foi meu amigo? Por favor, me diga pra onde meu filho tá indo? E me responda, por que você não o impediu? Perguntou dona Cristina já chorando.
-Porque ele me ameaçou...
Ameaçou de quê? de lhe matar? De lhe surrar Grilo? Perguntou o pai do garoto.
-Não... respondeu Grilo... me ameaçou de não ser mais meu amigo... o senhor suportaria perder a companhia de Epifânio?
No momento em que o avião deixava o solo rumo ao céu Grilo entregou o plano de vôo a nossos pais e nossos amigos dizendo que teria ido com ele se ele tivesse permitido, mas não permitiu... era uma tarefa que ele deveria executar, disse ele.
Só havia uns números e umas letras...
Assim...
52° 23' N and 4° 55' E


quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Rubén Darío Ávalos Flores, o doador.


Rubén Darío Ávalos Flores, o doador.
Faleceu Rubén Darío Ávalos Flores. Um pequeno, mas enorme, Paraguaio, aos 12 anos.
Sofria de um raro tipo de câncer, não sei bem qual, na verdade não sei, nem bem, nem mal, mas pouco importa, porque a doença levou nosso amiguinho escritor. A doença não lhe permitia se defender dela própria, mas, como ninguém, ele sabia se defender das lamentações que a vida lhe requeria, as lamentações nunca utilizadas por ele da maneira que a vida queria... o que ele fazia muito era passar pela doença lendo... aprendendo... sabendo... não, sabendo não, mas procurando o saber, procurando o conhecer, procurando o sentido da vida (risos), claro que não, ele não precisava saber o sentido da vida, já sabia o sentido da morte, a morte se utiliza do sentido do “acabar” para nos aterrorizar, nos apavorar, nos petrificar de medo, e sua resposta era rir “da” face do medo, rir “na” cara do medo. Se o sentindo do “acabar” da morte fosse utilizado e reutilizado para as fases ruins da vida, ou as coisas ruins da vida, ou ainda para as dificuldades da vida, seria bom demais... seria algo mais ou menos assim...

Cicrano: -Ei fulano, tá melhor? E aquela dívida com o banco?
Fulano: -Morreu! A morte levou!
Cicrano: -E aquele namorado feio e bandido da tua filha?
Fulano: -Vai morrer também! É só uma questão de tempo.
Cicrano: -E a tua sogra?
Fulano: ...  ...  ...

Coisa boa é a morte dar fim às coisas ruins que nos sobrevém, pois se morre acaba, simples assim, acaba... Acontece que as coisas boas da vida, as boas amizades, as boas oportunidades de emprego, as boas aulas que perdemos, as boas intenções, também morrem, e simplesmente acabam, passam e não voltam mais. Enquanto que as coisas ruins parecem Highlander, são imortais, são mais cristãs que muitos cristãos que vi morrer e não ressuscitaram, simplesmente morreram e não voltaram mais, muitas profetadas também se perderam no ar, mas as coisas ruins morrem por algum tempo e depois voltam, às vezes mais intensas ainda... Rubén Darío era só um garoto... um infante... mas não, não devemos e nem temos o direito de classificá-lo como uma criança apenas... Classificamos um gatinho como mamífero-felino, um cãozinho como canino, um cordeiro como ovino, mas esse niño paraguayo no és solamente um chico. Ele era um doador... não um doador de sangue, embora fosse um garoto-sangue-bom, também não era um doador de medula óssea, nem um doador de córnea, ou um doador/mantenedor de alguma universidade, não era um doador de órgão, ou dinheiro, ou até mesmo um doador de tempo... ele não tinha nenhum desses itens como tipo exportação de seu corpo ou seu bolsinho de menino para a doação... Mas o que ele tinha nos doou com maestria, com pureza, talvez não com toda a alegria, mas com a suficiente alegria de reconhecer o compromisso que Deus requeria dele, com a infinita alegria de compartilhar seu desejo de viver conosco a despeito da doença, com a eterna alegria de dar a vida em face da morte...

“Ele nos doou palavras”.

O incrível nessa história é que além das palavras doadas há uma lição básica, pura, humana, mais que humana, divina por trás das ações do pequeno literário... ele não perdeu tempo porque não tinha, não perdeu a oportunidade porque era a única que tinha, não perdeu amigos porque a pouca estada na vida lhe trouxe muitos dentro de cada clínica em que passou, em cada hospital, também não perdeu dinheiro porque os livros que escreveu serviram para ajudar sua madrecita com seu tratamento.
Não perca as oportunidades que se apresentam a você. Não perca tempo com pequenas birras com seu familiar ou com seu cônjuge ou com seu amigo(a), não perca a saúde guardando mágoa de ninguém, isso faz mal... simplesmente viva a vida como ela se apresenta a você, com toda a intensidade que você conseguir...

Rubencito, mi Hermano, Vaya con Dios a encontrarse con su general


Por Ricardo Serrão.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Dúvidas cruéis!

Desafio - Exercitando a escrita 2.

"Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência".

Dúvidas cruéis!

Passavam das nove horas da noite, de uma sexta feira sofrida, após uma semana de trabalho cheia de problemas a serem resolvidos, e alguns nem resolvidos, vindo de casa, não do trabalho, mas de casa, já banhado, com roupas limpas, com o suficiente no bolso para tomar um belo porre, cheio de desejo de encher um copo de chopp bem gelado e tomar todinho sem tirar da boca, sentindo o acre líquido descer goela abaixo, em enormes goladas rumo à escuridão e ao calor do interior do corpo para ser diluído e adentrar furtivo na corrente sanguínea tendo como norte o cérebro, aquele órgão danado onde reinam soberanas nossas emoções e pensamentos, bons e ruins, certos e errados, sóbrios ou descomedidos ou ébrios, como queiram, mas verdadeiros imperadores do nosso querer, mesmo quando não queremos nos rendemos a esses pensamentos e emoções.
Cheguei em casa e vi a luzinha da secretária eletrônica piscando, sinal de que havia recado pra mim. Pensei em não ouvir, pois na maioria das vezes eram de call centers me comunicando de um título protestado, ou de uma promoção para quitação de dívida de algum cartão que já não tenho mais. Não abri o recado, mas no banho, pensando em ligar para ela, me peguei pensando na luzinha da secretária e decidi ouvir... grande acerto... ou erro... ou acerto... acho que foi erro...não... acerto... ah... me estrepei de qualquer jeito.
Era ela...
disse apenas:
-Oi... sou eu... (Entre o “oi” e o “sou eu” passaram-se uns poucos segundos que para mim pareceram horas intermináveis)... -estou ligando para dizer que não quero mais você... (Bem que eu poderia ter desligado a máquina naquele instante, pois vieram outros poucos segundos, não mais que três, mas na condição emocional em que já me encontrava, pareceu a quantidade de meses que já tínhamos de relacionamento, bom relacionamento, nada de espetacular, mas bom relacionamento)... – conheci outra pessoa e vamos casar!
Pronto! O céu não caiu, o chão não sumiu, o ar não faltou, o que me fez sofrer foram as emoções e os pensamentos, aqueles mesmos maus pensamentos que se originam monárquicos no cérebro (lembram deles?). Pensamentos da traição, da infidelidade, da sacanagem sofrida.
Estava no balcão do bar pensando nas dívidas, nas contas vigentes, no negativo em muitos milhares de reais, pensando no chifre sofrido, lembrando de Djavan “Sabe lá, o que é não ter e ter que ter pra dar, sabe lá, sabe lá”, em como não ter como resolver esses problemas que para muitos parecem simples, mas para mim, naquele instante, eram insolúveis, quando de repente alguém me dá um tapinha nas costas e diz:
-Seus problemas estão resolvidos!!!!!!
Um inebriante aroma suave tomou conta do ambiente, terno e gravata, sapato bico fino de couro, anelão no anelar, com a sobrancelha feita, um pequeno brinco de diamante na orelha esquerda, um relógio chiquérrimo, um belo colar de ouro com um pingente de letra com um grande G, uma leve base sobre as maçãs do rosto e um sombreado retilíneo sobre as pálpebras delineavam uma make bem suave... Era um gênio moderno, ou uma gênia moderna, não consegui e nem precisava definir gênero, pois suas imediatas palavras não me pegaram de surpresa, nem de calças curtas, nem de supetão, me pegaram foi sem cérebro...
Disse:
Conheço seus problemas todos, suas dúvidas e convicções, suas alegrias e tristezas. Atenderei a apenas um entre dois desejos oferecidos: Você quer muitos milhares de reais ou 7 cm a mais no playground?
Oh, dúvida cruel!!!

Continue a história...

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

A onda perfeita - 1º texto do desafio exercitando a escrita. Para continuar.

O que pensa o (a) surfista quando vai dormir?
Na onda que pegou?
Na que não pegou?
Na que irá pegar?

Minha resposta:

O (a) surfista pensa na onda que “deseja” pegar, na que “anseia” por pegar.

Para reflexão e continuação:

Imagine que você é um (a) surfista e está na água no último minuto para a coroa de louros, na grande final do Torneio Mundial de Surf Profissional. Havia três caras na água, seus adversários são mais experientes que você, ambos somam oito títulos mundiais e você nenhum, os outros dois já saíram da água satisfeitos com suas pontuações, pois estão empatados a 8,9 pontos de dianteira da sua pontuação, o que lhes proporcionará, no mínimo, mais um título mundial, ainda que compartilhado. Você precisa de uma nota perfeita, uma performance perfeita, e para isso, precisa de uma onda perfeita, aquela com a qual você sonha todos os dias, aquela em que toda a galera grita seu nome da praia, vibrando de emoção pela onda perfeita e pelo seu desempenho nos drops e aéreos e tubos... mas... resta apenas um minuto, não um minuto dos grandes, nem dos médios, mas um minuto tamanho P, daqueles que tendo o mesmo número de segundos voa rápido nas asas do tempo como que sendo menor que os outros minutos. Virando-se você, à procura da onda perfeita, nada vê.

De repente, já com o pensamento de sair da água, de amargar um segundo lugar para dois primeiros lugares, desolado, seus ouvidos são abalroados de um intenso som vindo da areia, mas você só entendeu um, tipo, “Âo! Ão! Ão!”. Sem entender porque todos estavam de pé gritando e chamando seu nome, você vira pra trás e vê, a cerca de 700 metros de sua posição, a onda tão esperada, a onda perfeita, a maior da competição, gloriosa, aquela onda com a qual você sempre sonhou, mas... ao longe...bem no centro da onda...você vislumbra a sombra de um T-shark, um tubarão dos bigs, o tempo acabando, a onda nota 10, não, nota 11, a onda do título e...


Amigo (a)...Continue a história...

Revelação em quatro atos - Cadeia itinerante.


Certa vez, sentado à mesa da sala de estar, donde podia ver meu pai no sofá assistindo ao futebol na TV, iniciei uma carta... Assim.

1º Ato - A confissão

A quem não me conhece a fundo, quero confessar.
Já fui preso.
Pra mim não é uma coisa fácil de confessar, pois nem mesmo eu sei dizer quando aconteceu ou como aconteceu, uma vez que as imagens vêm à minha mente assim... meio turvas...como um sonho que a gente se esforça para lembrar ou uma lembrança de um passado distante, ou até mesmo uma lembrança de um festa regada a muito álcool, mulheres, rock e otras cositas más. O fato é que não consigo lembrar com clareza quando e como isso aconteceu, só sei que aconteceu. Outra coisa intrigante é que, às vezes, vejo meu pai nessas lembranças, como se ele me colocasse na cadeia. Coisa de doido mesmo.

2º Ato - As lembranças

Vou relatar o pouco que lembro.
Lembro bem que era uma cela com grades ao redor, era um pouco apertada porque eu conseguia tocar as grades da lateral esquerda e da direita sem sair do lugar, mas a grade da frente era mais distante, tinha que andar até ela e a de trás me servia de encosto. Outra coisa intrigante era o fato de não ter teto, isso mesmo, a cadeia não tinha teto. Sobre minha cabeça era livre, podia ver tudo acima de mim, mas não lembro se havia estrelas ou sol quente. Também lembro a sensação que eu tinha. Não era medo, ou solidão, ou clausura, era sensação de alegria, de prazer, de família.
A cadeia era itinerante... assim...tipo móvel. Lembro bem que passava em frente a um matagal, cheio de árvores frutíferas, e havia muito verde, pois eu conseguia ver, pelas grades, mangueiras, bananeiras, mamoeiros, abacateiros e muitas outras frutas, também lembro de campos verdes e vacas.
Ah! Como eu gostaria de entender essas minhas lembranças.
Lembro que passávamos por locais de morte, onde havia muitos corpos esquartejados, não dava para identificar nenhum, pois eram apenas pedaços de corpos, orelhas, pés, ossos, tudo muito vermelho de carne viva.
E o lago? Ah! Havia lago também. Lembro bem dos peixes, eram de todo tamanho, pequenos, grandes, gordos, magros, finos e compridos, alguns arredondados. Acho que passávamos também por estados do sul do país, ou até mesmo em outros países, pois eu me lembro de muito gelo, montanhas de gelo.
Eu sei que estava preso, mas não tenho lembranças de que essa prisão me fizesse ficar mais tenso, ou mais estressado, ou mais violento, lembro apenas de que era uma cadeia itinerante.

3º Ato - O Compartilhamento

Decidi ler a bendita carta para meu pai.
Peguei o papel avulso no qual escrevia a bendita, e levei até ele entre um tempo e outro do jogo na TV.
- Pai, disse eu, o senhor poderia me ajudar com uma coisa? Estou confuso com algumas lembranças que tenho.
Ele, muito sério, com aquele olhar de John Wayne, virou e disse:
- Fala, o que é?(ah bruto!).
Li a carta pra ele assim mesmo, meio sem graça, meio constrangido e no final fiquei chocado com a resposta de meu querido pai.

4º Ato – A descoberta

Ele disse:
- Deixa de ser leso, isso era quando tu eras criança e eu te colocava no carrinho do supermercado.

Ah!...
...Tá!...
...Então tá!...
...Que bom!...
...Ufa!...

...Sou ficha limpa.

Por Ricardo Serrão

Desafio (Exercitando a escrita).

Olá, amigo (a)!
Esse texto é pra vc mesmo...
...Sim...
Vc que acaba de se perguntar:
- Será que é comigo que esse gordo tá falando? -Será que esse texto é pra mim mesmo???
Você não precisa continuar a leitura, mas se continuar...
...Sim, é pra vc.
Há algum tempo eu vi uma onda de desafios de um bocadão de gente pelo mundo todo fazendo outro bocadão de coisas malucas. Algumas hilárias, outras sem noção. Confesso que curti alguns desses desafios, outros nem tanto e outros ainda nenhum pouquinho. É verdade que ninguém veio a esse mundo para ser unanimidade, ainda que esse seja o desejo de quase todos.
Bem... Também quero lançar um desafio.
Você que gosta de ler, mesmo que seja apenas posts dos amigos no facebook ou uma frase no twitter ou, sei lá, em qualquer uma dessas redes sociais, muitas vezes leu uma frase, ou um artigo, ou um livro e pensou:
-Poha cara, eu poderia ter escrito isso, e talvez até melhor.
Não é verdade?
Também aconteceu comigo. Sempre gostei de ler e de quando em vez vinha esse pensamento: -Poha, poderia ter sido eu a ter essa ideia de escrever sobre isso.
O negócio é que muitos têm desejo, desses muitos, todos têm capacidade, e desses todos, 100% tem conteúdo para escrever, ainda que à sua maneira, no seu ritmo e usando sua própria linguagem.
Um dia eu decidi colocar no papel algumas linhas que foram evoluindo para parágrafos e capítulos e se tornaram um livro. Pequeno, sim, mas um livro.
Tenho o desejo de escrever outro e não seria tão difícil assim, uma vez que já há uma pequena experiência, mas... Minha ideia é fazer um livro com a SUA PARTICIPAÇÃO. Que tal? Topas?
O desafio:
Iniciarei uma história aleatória, e a desenvolverei até determinado ponto e você dará continuidade a ela. Não precisa ser da mesma maneira que eu estiver escrevendo ou do mesmo modo como uso as palavras. Pode ser exatamente como você fala no dia a dia. Sem se preocupar com erros, pois eu mesmo farei as correções necessárias.
Outra coisa:
A continuação da história não precisa ser pública se você não se sentir seguro ou à vontade para isso, podendo enviar sua continuação inbox e eu reescreverei pra vc também inbox.
Mais uma coisa:
Essa ideia não precisa dar certo, mas precisa sair da minha cabeça, por isso estou desafiando você que está lendo até aqui. Porque se vc está lendo até aqui é porque a ideia lhe pareceu sensata.
Vamos ver no que vai dar, galera.

Eu topo... E você?

Evoluir é não julgar... É simplesmente... Amar.

Compartilhando coisa boa
Oi, minha Rainha!
Hoje estamos comemorando bodas. Na verdade não sei de quê, mas... pouco importa, desde que seja com você. ,
Qualquer semente que plantamos juntos, colhemos e colheremos juntos. Qualquer semente que plantamos separados, ou seja, individualmente, sem o outro saber, às vezes até escondendo deliberadamente, acredite, também colhemos e colheremos juntos, pois não importa o que o outro faça de bom ou de ruim, iremos colher os frutos juntos, sejam bons... ou...ruins...estaremos sempre presente na vida um do outro porque a cumplicidade tem sido a ferramenta usada por Deus para nos manter assim...colados. Confesso que pra mim é mais fácil permanecer ao teu lado uma vez que sua evolução na vida foi sempre para melhor, foi sempre uma evolução positiva, logo, você é a minha metade mais desenvolvida, mais bonita e mais qualitativa e menos inteligente, pois... não deve ser muito inteligente ficar comigo enquanto em mim só o que evolui fisicamente é a barriga, os cabelos brancos e a feiura, emocionalmente o medo, a chatice e a ansiedade, e espiritualmente...bom...isso sim evolui legal.
Agradeço a Deus por você não ter olhos somente para meus defeitos, se assim o fosse já teria deixado essa mala pra trás... para a “próxima”...não odeie tanto a “próxima” assim, porque quem seria tão pouco inteligente para ficar comigo?
Não peço muito. Não precisa nem me amar... apenas me suporte até que meus olhos fechem pela derradeira vez, ou eu precise fechar os seus.
Não lembro muito do nosso casamento, isso também não tem tanta importância assim. Foi só uma data e um evento. O que me interessa realmente é o hoje, a você de hoje, o eu de hoje, o nós de hoje. Ao passado só retorno se for para construir alguma coisa a partir dele ou para dar um bom testemunho da ação de Deus em nossas vidas.
Evoluir não é apenas admirar as qualidades evoluídas, a beleza evoluída, o intelecto evoluído. Evoluir é admirar o positivo e o negativo do outro, as coisas grandes e as pequenas, o bobó de camarão e o ovo bem fritinho, quase queimado, no pão no café da manhã, o perfume no pescocinho nas preliminares Das brincadeiras no playground e o cheiro de cozinha depois do almoço pronto.
Evoluir é “não medir” o certo ou o errado, o bom ou o ruim, o que serve ou o que não serve.
Evoluir é não julgar... É simplesmente... AMAR.


Fica a dica para quem ler essas linhas.

Deusa Arte.

MÚSICA Já escrevi sobre a presença da arte nas nossas vidas. “A arte é assim, alguns gostam, outros nem tanto, outros são distantes, mas tod...